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quinta-feira, janeiro 17, 2008

A EDUCADORA QUE ENSINOU A ENSINAR

E Branca era o seu nome. Nem tão comum e nem tão raro, simplesmente Branca! Fiquei curioso por conhecer mais a respeito de Branca e saí a pesquisar tudo o que viesse me informar sobre sua trajetória, sua obra e sua vida. Pouco encontrei e quase nada acrescentou além do que já sabia sobre Ela. Pesquisei nos sítios de busca na Internet e nada de sua biografia, perguntei então às pessoas que ora atuam no âmbito em que Branca atuara – a área educacional. Outra decepção! Das 194 pessoas a quem perguntei se conheciam Branca Alves de Lima, entre professores, coordenadores pedagógicos, orientadores educacionais, estudantes de pedagogia e até bibliotecárias, apenas duas, entre todas essas pessoas, me responderam afirmativamente conhecê-la e somente Danielli Viana Cabral – uma excelente professora de literatura e redação respondeu convictamente e, até com uma certa dose de emoção, ser Branca Alves de Lima a autora da cartilha Caminho Suave, um dos livros mais lidos do Brasil. Quem sabe não tenha sido o mais lido?
Eis aqui um fato singular em que a criação é mais conhecida que seu criador, nesse caso criadora, a Branca cuja vida e obra despertaram minha curiosidade de educador. Uma obra ser mais famosa que seu autor seria como a Mona Lisa ser mais conhecida que Leonardo da Vinci, O poema Rosa do Povo mais lembrado que Drummond, o quadro Guernica ser mais famoso que Pablo Picasso e a Nona Sinfonia ter mais renome que Beethoven. Para as pessoas que perguntei sobre Branca, questionei logo a seguir se conheciam então sua obra – Caminho Suave. A maioria respondeu sim e lembraram ter sido alfabetizadas através de seu método. Eis um trecho que extraí do Jornal Tribuna de Ribeirão Preto no google sobre Branca e sua cartilha Caminho Suave:
Na tentativa de ajudar os alunos a memorizar as letras e respectivas sílabas, fez desenhos simples que continham a inicial de palavras chaves: o a, no corpo da abelha, o e na tromba do elefante, o f no cabo da faca, o g no corpo do gato e, assim por diante.
O sucesso foi total. Várias gerações puderam aprender o c do cachorro, o b da barriga e do bebê e toda a seqüência do alfabeto.
Assim, em 1947, nasceu a cartilha Caminho Suave, um caminho mais ameno e menos doloroso para ensinar meninos e meninas a ler e escrever.
A primeira edição é de 1948, e por mais de 30 anos foi a principal arma de alfabetização do País. Existem exemplares da década de 80, quando sofreu várias modificações, tentando se adaptar ao novo método, e vários exercícios foram incluídos.
Em 1997 Branca Alves de Lima fechou sua editora, surgida com o sucesso da sua cartilha. Na época, em uma entrevista, a professora disse: Eles (o governo, o MEC e o Guia do Livro Didático, o Conselho Nacional de Educação, as secretarias de Educação etc.) estão projetando, quase decretando, que os alunos não usem mais cartilhas. Mas só ao final de várias décadas é que vai se chegar à conclusão se o construtivismo dá ou não resultados.
Há exatos quarenta anos, Dona Rossilda, minha professora do primeiro ano do grupo escolar, que saudades daquela época, descortinou para mim o mundo do saber que eu e milhares de alunos que por ela passaram iríamos adentrar, através da suavidade do Caminho Suave. Assim sendo foi o primeiro e neste momento é também o último livro que li, pois fiz questão de lê-lo ontem com o intuito de escrever esse texto e captar mais alguma informação útil sobre sua autora, a educadora Branca Alves de lima, Lembremos seu nome.
Estima-se entre 30 e 50 milhões o número de brasileiras e brasileiros alfabetizados pela cartilha Caminho Suave e, por isso mesmo, não entendo o desprezo que estudiosos e técnicos ligados à área educacional tenham dado a dona Branca. Compreendo as críticas e até defendo mudanças para se atingir melhorias, mesmo porque quando se buscam melhorias estas só são alcançadas pelo viés das mudanças. Como uma pessoa que dedicou parte de seus noventa anos de existência em benefício da educação e da qualidade de ensino possa ser tão esquecida, menosprezada até por seus pares, gente de seu próprio metier? Ser esquecido pelo povão de maneira geral é compreensível, pois esse irá valorizar muito mais juízas de futebol e amantes de senadores, por exemplo, que tiram fotos nuas para ganhar dinheiro e fama. Esse mesmo povo que se preocupa mais em saber quem matou a personagem da final da novela do que quem está matando nossas crianças que entram mais cedo no mercado de trabalho e também do crime. De um povo com essa mentalidade não se pode realmente esperar muita coisa, mesmo entendendo que é um povo que não tem culpa por ser formado e educado pela mídia televisiva e não pelas escolas, mas Branca foi esquecida e é desprezada por aqueles que precisariam conhecê-la, ainda que fosse somente para criticá-la, porém nem por esses Branca é lembrada. Mesmo assim resolvi escrever esse texto porque estamos vivendo o mês de outubro em que comemoramos o dia do Professor em duas datas: Internacional – 5 de outubro e Nacional – 15 de outubro. Escrevo sobre alguém que merece ser lembrado nesse dia e foi então que procurei conhecer Branca Alves de Lima, nome esse digno de carinho, respeito e acima de tudo ser lembrado sempre, pois graças ao seu trabalho o caminho de muita gente se tornou bem mais suave. E Branca era o seu nome e além do nome pretendo descobrir muito mais sobre Ela. Finalizo aqui com um poema de sua autoria, denominado “Casa Pequenina” e extraído da cartilha Caminho Suave elaborada para crianças que hoje cursam a segunda série do ensino fundamental:

Uma casa na colina,
Pequenina Amarela,
Um quartinho, uma cozinha
E gerânios na janela.

Ciscando lá no terreiro
Um galo, um peru e um pato
E o céu azul espelhado
Na água mansa do regato.

Muito verde em toda a volta,
Trepadeiras na cancela,
Uma mãe e uma criança
Completando a aquarela.

22 comentários:

kelly disse...

" A sabedoria é um dom, e melhor ainda é quando se sabe explorá-la."


um abraço Kelly

Janaína Leslão disse...

tava procurando esse poeminha porque ia falar dele no meu blog! que bom que vc o tem!! Obrigada por compartilhar!!

Unknown disse...

Ah, que lindo, quanta emoção... Ainda me recordo que ao ler esse pequeno poema eu construía toda cena na minha mente infantil, e ficava a viajar por horas, nessa casa pequenina...Parabéns pela iniciativa, sou educadora infantil e tomei gosto por esse mundo ,através das obras de Branca Alves de Lima

Unknown disse...

Ah, que lindo, quanta emoção... Ainda me recordo que ao ler esse pequeno poema eu construía toda cena na minha mente infantil, e ficava a viajar por horas, nessa casa pequenina...Parabéns pela iniciativa, sou educadora infantil e tomei gosto por esse mundo ,através das obras de Branca Alves de Lima

Maria Luiza Rodrigues Bäurich disse...

Parabéns, minha querida professora Branca Alves de Lima. Tenho 61 anos,dos quais 41 anos dedicados ao Magistério, não fui alfabetizada pela Cartilha ( minha nmãe me alfabetizou). Sou professora aposentada pela PMSP e ainda leciono. Usei muito a cartilha Caminho Suave para alfabetizar os meus alunos, iniciando em 1969. Nunca vi durante muitos anos, alunos que terminam o quarto ano ( 4ª série..., quanta mudança) saírem analfabetos...(Mas sabem colocar um ¨X¨nas cédulas!!!!). Meu marido marido a conheceu em Bauru, pois morou e trabalhou nesta cidade.Participei muito e com tristeza, das mudanças e das demagógicas explicações que os governos enfiam ¨goela abaixo¨, mas minha RICA professora Branca, não importam essas mazelas. Você foi, é e será sempre a mesma educadora que sempre ensinou a ¨ler e escrever¨. Você aceitou mudanças e marcou para sempre a era da alfabetização em nosso país. Não se entristeça nuna, pois Jesus Cristo pregou o amor incondicional, a paz, a vida e os homens com seu orgulho, desejando tudo ao contrário para satisfazerem seus egos, o crucificaram. Mas, ele vive após vinte séculos. Sua obra, professora, permanecerá para sempre, fato que até hoje não conseguem explicar o porquê desses desvios. Aceito todos os estudos e teorias apresentados. Adaptei-me às mudanças, mas hoje fico muito preocupada com o ¨futuro alfabético¨e o grande futuro de meu país. Parabéns professora...Você está e estará sempre presente em nossa mente e em nossos corações. Professora semi-aposentada de Sampa - Véra Lucia

Messiah disse...

Pow, quanta saudade!
Também fui alfabetizado usando o livro "Caminho Suave" da Professora Branca Alves de Lima. lembro-me de alguns personagens como:Fábio,Didi, o cachorro Tótó, Zaza e outros.Não entendo também a falta de reconhecimento por parte dos educadores, do grande trabalho feito por Branca pela educação no Brasil. Alfabetizar tem sido o grande problema na educação no Brasil. Um abraço!

gracinha2202 disse...

esse poeminha conheci na terceira série e nunca mais esqueci...
um forte abraço
graça

roberta rocha disse...

olá profª cisi..também sou professora e posso dizer que fiquei admirada com sua forma de escrever e defender suas idéias. Sobre o post a respeito de Branca Alves de Lima,concordo plenamente:como uma pessoa de qualidade notável como ela,pode ser tão desconhecida nos meios educacionais?E ainda pior: eu precisava de informações a respeito de sua vida e também não encontrei nada. Será que você poderia me ajudar nesse sentido? algo sobre sua vida,origem,parentescos,etc..Se puder meu e-mail é michelerocha4@hotmail.com e também se pudermos trocar informações sobre nossa área,ficarei lisonjeada.

abraços
michele

Leila disse...

Começava assim a primeira lição:Me corrijam se eu estiver errada.
A pata nada
pata pa nada na
pata nada
pa pe pi po pu.

Minha memória não está tão ruim aos 56 anos Rssssssssss

Letras Diversas disse...

A pata nada é da Cartilha Sodré e não da Caminho Suave, se não me engano. Da Caminho Suave com certeza não é. Abraços!

Sandra Maria disse...

Cheguei até essa publicação por querer saber mais sobre a aurora da cartilha Caminho Suave, com a qual fui alfabetizada e da qual tenho belíssimas lembranças.
Gostei do texto, exceto pelo desnecessário comentário sobre o "povão" , já que faço parte dele e não me enquadro nas descrições.
É uma pena realmente que não haja informações sobre ela, autora de uma obra tão importante no Brasil.

Fernando Lazarini disse...

Quanta emoção conhecer a história de Branca. Dona Antonieta, minha professora, introduziu a Caminho Suave em minha cidade. Parabéns por sua pesquisa.

Unknown disse...

Professor a única cartilha ao meu ver que refletia nossos conhecimentos, nossos ensinamentos... quisera eu conhecer pessoalmente Branca Alves de Lima que desde a minha infância eternizei em minha memória o nome dela. Parabéns pelo texto professor.

Nélio José Bastos disse...

Incrível como determinadas coisas são aqui neste país. Não se valoriza o que dá certo, especialmente se for um "produto" nacional, e aquilo que muitas vezes é duvidoso, mas se for "de fora", é super valorizado! Alguns professores das séries iniciais que conheço, dizem claramente que o construtivismo não é tão eficaz quanto o uso de cartilhas, em especial do Caminho Suave. Até porque o construtivismo não seria um método de ensino e sim uma teoria pedagógica (sou professor universitário, engenharia, não pedagogo). Tenho uma filha de 5 anos, que está em uma escola e está querendo aprender a ler e a escrever (parte dela isso). Por alguma razão, ando desconfiado da forma como algumas coisas estão sendo abordadas, e decidi por ir atrás de um exemplar da velha e boa cartilha, e tentar aplicar o método com minha filha. Vamos ver no que dá!

Unknown disse...

Quanta saudade! Também eu fui alfabetizada por essa cartilha e, nostalgicamente, estava procurando referências sobre a autora, quando me deparei como esse texto. Como está dito na matéria, dados biográficos são escassos, mesmo nesta era de sistematização, da qual o "google" é a face mais evidente.

Unknown disse...

Sábias palavras vossa profissão é e será sempre uma profissão honrosa e muito muito importante , tenho o maior carinho por todos os professores, merecem o respeito da população em geral.Saudações.

Unknown disse...

Excelente texto professor Cisi,o auge do seu comentário foi: O povão lembrar de juízas e amantes de senadores e esse mito (Branca) nan ser lembrada e excluída na midia de uma maneira geral.Realmente e um espanto o pouco material sobre esta mulher que fez parte da vida de muitos inclusive na minha maravilhosa infância. Meus parabéns sobre o excelente texto. Saudações Ronaldo Angelo - ronaldoangelo@gmail.com.

Unknown disse...

Eu me importo!
Gostaria de nesse momento ter uma eloquência para minha emoção.
Li com muito carinho, muita saudade dessa época com certeza ela será reconhecida e recompensada no seu novo lar. Obrigada por compartilhar!

Marcelo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Ola, encontrei seu Blog, e fiquei muito feliz porque fui alfabetizada com a cartilha Caminho Suave, e hoje com 55 anos estou terminando minha licenciatura em Historia e meu TCC eu quero falar justamente sobre as autoras da Cartilha Caminho Suave, e da Cartilha Sodré, e não encontro muita coisa sobre elas.

Prof. Cisi se voce puder me ajudar.

Att

Silvia
Taubaté-SP

Unknown disse...

Esse poema faz parte da minha vida. ..lembro como se fosse hoje. No pátio da escola...onde as crianças daquela época apreciava com total inocência. E em plena pandemia. ..Branca Alves de Lima ainda toca corações e trás consigo a criança interior e as mais belas lembranças. ..

Unknown disse...

Eu trabalhei na Editora "Caminho Suave" entre 80 e 86. Tive contato direto e diário com dona Branca, pessoa notável e merecia realmente ser mais lembrada e honebageada, mas num país "sem memória" como o nosso, isso não me surpreende. Como também fui alfabetizado por sua Cartilha e por eu ter comentado isso com ela, nas nossas muitas conversas à tarde, ela me deu um exemplar da 72° Edição de 1970, que tinha em seus arquivos, pena eu não ter pedido a ela uma dedicatória. Guardo-a com todo carinho, saudades e respeito que ambas merecem.