O Curso superior otimiza a conquista de bons empregos, ou é irrelevante?

quinta-feira, janeiro 17, 2008

A AULA PERIPATÉTICA

Foi uma ótima aula! Com certeza, além de ótima foi produtiva, dinâmica, recheada de boas energias, cheia de vida mesmo, enfim, uma das melhores de minha vida. Livre da arrogância falta de modéstia ou de humildade pelo fato de eu ter sido o facilitador do processo que permitiu que essa aula atingisse tal performance, afirmo com todas as letras que dificilmente esquecerei da aula de hoje, ou melhor, espero jamais esquecê-la e me sentir, com todo respeito e muita humildade é claro, como um Drumonnd cuja vida das retinas cansadas jamais esqueceu que no meio do caminho tinha uma pedra. E se tinha uma pedra no meio do lindo poema do magnífico Drumonnd, na aula a qual faço referência nenhuma pedra atrapalhou o caminho dos doze alunos que dela participaram, pelo contrário, o caminho para estes estava desobstruído para construir de forma brilhante uma aula peripatética.
Vamos ao dicionário - peripatético do Lat. Peripateticu, que gosta de passear, adj... Que se ensina, passeando; Relativo à filosofia de Aristóteles; que segue a doutrina de Aristóteles; nome decorrente do hábito de Aristóteles de ensinar caminhando ao ar livre, muitas vezes sob as árvores que cercavam o Liceu de Atenas na Grécia.
A linda manhã desse sábado que o Sol irradiou nos convidava para sair da sala de aulas e continuar a estudar e aprender, com mais gosto e emoção lá fora, onde o mundo que envolve a escola ensina com mais eficácia, se as pessoas que se propõem a aprender abraçam com firmeza tal propósito. Divididos em quatro grupos compostos por três alunos, esses discípulos receberam a incumbência de caminharem juntos por algumas ruas e quarteirões, a observar, a pensar, a conversar e nessas conversas trocar informações e impressões com seus pares. Durante esse trajeto que antecedeu o retorno à escola consegui desafiá-los com a proposta de que eles deveriam desenvolver e amadurecer a concepção da idéia de um produto inédito, isto é, alguma coisa capaz de atender a uma necessidade ou desejo, porém desconhecido do público e ausente em qualquer mercado. A aula era de marketing e o tema a Curva da Maturidade ou o Ciclo de Vida do Produto, cujas fases são a introdução, o crescimento, a maturidade e o declínio. Quando os doze olhares se dirigiram a mim, na primeira esquina que paramos, senti naquele momento que aquele não era um simples desafio, mas algo que aguçou suas mentes, o vigor de suas juventudes, de seus pensamentos, do despertar da criatividade de cada um daqueles alunos, cujos potenciais pareciam ilimitados, quando disse a eles que a melhor dica que eu poderia dar a eles é a minha famosa “Se Vira”. Parece que naquele momento eu senti que pessoas simples, moradores da periferia do ABC, são capazes sim de competir com qualquer estudante de uma USP ou mesmo de uma Harvard, basta que para isso eles acreditem na coragem, no sentimento e no poder de raciocínio que trazem dentro de si. Cinco produtos, e não quatro como era esperado, foram divulgados pelos alunos e carrego nesse momento a certeza de que existe viabilidade para suas aplicações. Furto-me aqui de divulgar os produtos porque pouco acrescentaria a esse texto, mas não me furto de dizer que esse tipo de aula não cansa o professor, nem mesmo as pernas que utilizamos para junto com eles caminhar e sanar alguma possível dúvida. Na verdade quem mais trabalha nesse tipo de aula são os cérebros e os neurônios dos aprendizes que na liberdade desse cenário criam, observam e deduzem o que é necessário. Quando o último trio apresentou sua idéia todos aplaudiram muito e então perguntei sobre o horário, pois todos se esqueceram desse detalhe insignificante chamado final de aula naquele momento e todos, inclusive eu, ficamos surpresos da rápida passagem do tempo. Infelizmente o que é bom passa rápido e o que é ótimo passa ainda mais rápido. Com certeza foi uma ótima aula! Ótima aula pode ser definida como aquela em que se aprende no fazer e não no decorar ou verbalizar, mas observar e experimentar. Sejamos peripatéticos para ensinar e para aprender e já que eu lembrei o mineiro Drummond, vêm agora em minha mente outro escritor mineiro para ficar por aqui:
Mestre não é só quem ensina; mas quem, de repente, aprende. (Guimarães Rosa -, escritor brasileiro) . E hoje aprendi muito, graças aos meus queridos e peripatéticos alunos.
Em tempo: Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987 – Poeta) e João Guimarães Rosa (1908 – 1967 – Romancista e Contista) – Dois mineiros que eu gosto muito.

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