O Curso superior otimiza a conquista de bons empregos, ou é irrelevante?

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Educar as Crianças

O grande sábio grego Pitágoras disse que é preciso educar os meninos e assim não será necessário castigar aos homens e nessa mesma linha de raciocínio há um provérbio bíblico que diz: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele” [provérbios 22,6]. A sabedoria dessas duas máximas milenares poderia muito bem ser empregada na sociedade brasileira atual quando notamos um evidente quadro de inversão de valores e responsabilidade no que tange a educação e o ensino, pois a maioria de pais e mães e, quando digo a maioria refiro-me à quase todas as famílias brasileiras que têm filhos em idade escolar, transferiram às escolas e professores o sagrado, divino e maravilhoso dever de educar seus filhos. Basta educar a criança antes mesmo que ela comece a ensaiar seus primeiros passos e muitos problemas de indisciplina e má-conduta poderiam ser evitados desde os primeiros dias de escola até a formação escolar completa do indivíduo – da educação infantil até a colação em grau superior, entendendo que em todos os níveis de ensino há casos de alunos que trazem esses problemas citados. Quando o assunto é educação infantil, alguns entendidos afirmam que esse processo deve ser iniciado ainda na fase intra-uterina, de maneira que a mãe se comunique mentalmente com o filho que está sendo gerado em seu ventre, através de orações ou bons pensamentos, pois pensamento é vida e desejo daquilo que se pretende concretizar. O motivo que despertou meu interesse em escrever esse texto foi um triste episódio ocorrido na última quarta-feira em uma classe de Gestão em Segurança Empresarial, ou seja, com alunos de ensino superior e que relato aqui junto com os casos de dois outros colegas professores que vivenciaram situações constrangedoras de falta de educação no exercício do magistério.
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CASO I. EU EM UMA FACULDADE NA CAPITAL PAULISTA:
Começava a última das três aulas de Administração na noite de quarta-feira e para complementar o trabalho naquele dia resolvi passar um filme técnico denominado “Se eu fosse você”, cujo teor em seus 16 minutos mostra a relação cliente-fornecedor alertando que todo fornecedor precisa saber se colocar no lugar de seus clientes. Pelo tema do filme fica fácil entender que minha intenção não foi enrolar ou preencher o tempo da aula, mas tive um propósito e um objetivo didático e técnico bem definido ao optar pelo referido recurso que foi seguido de um bom debate entre os alunos, entre os alunos que ficaram naturalmente, pois dois que pertencem ao grupo assinaram a lista de presença e tão logo as luzes se apagaram saíram da sala de maneira desrespeitosa e debochada sem pedir licença ou dar o mínimo de satisfação – falta educação de berço. Lamento sinceramente a atitude desses dois rapazes e levanto aqui uma questão importante: Será que em seus locais de trabalho esses dois alunos agem da mesma maneira que agiram na ocasião que aqui relato?
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CASO II. PROFESSORA VALÉRIA EM UMA CLASSE DA 5ª SÉRIE NUMA ESCOLA ESTADUAL DO ENSINO FUNDAMENTAL EM DIADEMA:
Terminara o intervalo de aulas e a professora Valéria ainda no corredor ouviu um grande rumor de carteiras se arrebentando que vinha de dentro da sala aonde se dirigia, apressou o passo e conseguiu através de um grito, o único recurso disponível naquele momento, interromper a ação de dois garotos que brincavam de lutas, semelhantes àquelas que eles vêm em desenhos animados e outros seriados televisivos, utilizando as carteiras escolares. Os meninos ainda tentaram se justificar, mas a professora os levou à diretoria da escola e os dois receberam suspensão de alguns dias de aulas como punição por suas atitudes ridículas.
Menos de uma semana após esse ocorrido a professora Valéria é intimada a comparecer na delegacia da cidade para assinar ao boletim de ocorrência solicitado pela mãe de um dos garotos malcriados. O triste da história foi saber que essa mãe também é professora. Esse é um pedacinho do retrato da sociedade brasileira que reclama dos políticos e da violência sem se questionar se esses políticos e os violentos de agora são ou não frutos de seu ventre.
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CASO III. PROFESSOR MARCOS EM UMA ESCOLA MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL.
Dois alunos do professor acabavam de consumir um cigarro de maconha antes de entrar no laboratório de informática e o professor preferiu conversar com os dois jovens evitando que eles utilizassem os computadores. Na reunião entre pais e professores da escola o professor Marcos teve contato com as mães dos dois e as orientou sobre a necessidade de estreitar o diálogo em casa com seus filhos. Elas então quiseram saber o motivo daquele conselho. O professor Marcos tentou evitar ao máximo adentrar o mérito da questão das drogas, mas não teve jeito e abriu o jogo. Igualmente ocorreu no caso anterior com a professora Valéria, meu amigo Marcos também teve sua presença solicitada na delegacia pelo mesmo motivo. Afinal de contas Valéria e Marcos vocês são pagos para ensinar e não para educar, isso deveria ter sido feito pelos pais e em casa, desde a época em que os pimpolhos ainda não arrebentavam patrimônio público ou se deliciavam com drogas que constroem a violência.
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Quero lembrar aos hipócritas de plantão que professor ao dar aulas está trabalhando e com seriedade, ao contrário do que pensa a maioria de nossa sociedade ao nos perguntar de forma ridícula e estúpida se trabalhamos ou só damos aulas. Trabalhamos sim senhoras e senhores pais, mães e responsáveis (será que são mesmo?) e aqueles entre nós que optaram apenas pelo magistério como atividade, entre os quais me encontro com muito amor e satisfação diga-se de passagem, têm suas atividade mentais intensas para preparar e levar o melhor em termos de qualidade de ensino e também de educação para os filhos que vocês não educaram com a eficácia necessária e nos entregam como se fôssemos milagreiros.
Acrescento ainda que se estivesse no lugar dos pais que abriram boletim de ocorrência contra meus dois colegas, primeiro que isso não aconteceria e ao invés de puni-los com um B.O. eu iria agradecer e transformar meu contato numa amizade sincera e talvez duradoura.
É claro que esse texto vem com um tom de desabafo, mesmo entendendo que falar de educação e bons modos em um país onde se valoriza mais jogador de futebol, dançarinas de axé, cantores de funk e personagens de programa reality-show do que pessoas que querem melhorar a qualidade de vida e o futuro da nação são como clamar no deserto ou falar para as pedras. Mesmo assim acredito em Pitágoras (571 a.C. – 497 a.C.) - “EDUQUEM OS MENINOS E NÃO SERÁ PRECISO CASTIGAR OS HOMENS”. Um dia o povo acorda.

Santo André, 21 de abril de 2007.

3 comentários:

Margaret disse...

Querido Mestre,
como fiquei feliz de ter encontrado o seu blog, é uma maneira de continuar ouvindo suas aulas e matando a saudade e a sede de novos horizontes que tenho.
Que a gente continue mantendo contato, te agradeço todo esse carinho e até breve.
Muita Paz e muita Saúde!
com carinho
Margaret ( a mineira)

Érica disse...

Oi Professor!
Vim fazer uma visitinha. Li seu "desabafo", e concordo com você e com Pitágoras...
Continue lutando. O mundo precisa de Homens de boa vontade, de mais altruísmo...
Adorei seu blog. Essa foi minha primeira visita, mas passarei por aqui mais vezes, ok?
Um abraço.
Érica L. J.

Anônimo disse...

Grande Mestre André!

Saudades dos seus brilhantes textos e bate-papos!

Espero que esteja bem e tão contagiante de alegria como sempre!

Deixo aqui registrado a minha grande satisfação de ter aprendido com o melhor (o senhor).

Forte abraço.

Thiago "japonês" Ito Magri (Alcina 2002).

thigrind@thigrind.net